Despedida de solteira para marcar
As tatuagens de hena se apagam, mas não a lembrança de uma "noite de hena", a exótica forma como milhares de egípcias dizem adeus ao celibato.
Por EFE | Yahoo! Brasil – qui, 28 de fev de 2013 16:43 BRTTradição milenar no país das pirâmides, as noites de hena nunca perderam seu glamour entre as noivas egípcias. Na festa pré-nupcial, cada vez mais são copiados os rituais exóticos do vizinho Sudão, onde uma noiva pode se casar sem celebrar o casamento, mas jamais sem uma noite de hena.
O rito de passagem não será autêntico se não contar com uma tatuadora sudanesa que enfeite os corpos da noiva, de suas amigas e de suas parentes com desenhos temporários.
"No passado, só servíamos a hena em bandejas, das quais a noiva e suas amigas pegavam um pedaço para tingir suas mãos nessa noite", diz a tatuadora sudanesa Hoda Ali, que está há 15 anos no ramo.
Mas, ao longo dos anos, as tatuadoras foram modificando essa tradição, normalmente reservada para as mulheres, e formaram grupos musicais para incrementar a noite.
Para satisfazer todas as noivas, independentemente de sua classe econômica, Ali e outras artistas oferecem "pacotes" para a celebração da festa, cujos preços variam entre 500 libras egípcias (cerca de US$ 80) e 1.500 (cerca de US$ 250).
Em todos os casos, nunca falta a "zafat el hena" ("a procissão da hena"), na qual a tatuadora ou "hannana" coloca a hena, fazendo o formato de um coração em uma bandeja, decorada com flores, velas, açúcar e incenso.
A "hannana" entrega a bandeja às amigas da noiva, enquanto esta acende uma vela e põe seus pés em água com flores.
A sogra e a mãe da futura esposa também participam do "banho" à noiva: a primeira lhe dá um buquê de flores e põe um pedaço de açúcar em sua boca, e a segunda lhe tinge o pé direito com a tinta natural.
Por fim, a noiva joga o buquê de flores a suas amigas, que se colocam detrás dela e, depois, todas as convidadas começam a dançar.
A festa pode ser animada por dois ou três ou cinco dançarinas que acompanham a tatuadora e que se encarregam de vestir a dona da festa com uma roupa diferente para cada música.
Flamenco na Noite do Cairo
Outras tatuadoras, como Latifa Osman, chegaram a colocar música espanhola no baile para vestir a noiva com um traje de flamenco.
"Nas noites de hena que organizo, levo para a noiva trajes do Sudão, do Golfo Pérsico, da Índia, de Alexandria e da Espanha, e ponho músicas de cada país para animá-las a dançar", conta Latifa, que deixou seu trabalho de comerciante há 13 anos para se transformar em tatuadora profissional.
A parte mais importante de uma noite de hena começa quando a hannana desenha sobre os corpos das noivas, utilizando como pincel um cone de tela perfurado e recheado da pasta escura.
As tatuadoras admitem que a pasta não é composta somente de hena, já que é misturada com um óleo sudanês e com tinta escura. "A cor da hena é marrom claro e nunca causaria um impacto forte", diz Latifa, que assegura que a mistura que usa nunca causa alergia.
A hena provém da folha seca triturada de uma planta do mesmo nome, conhecida cientificamente como "Lausonia incermis", que cresce no Oriente Médio, na Índia, no Paquistão e em várias regiões da África. Seu uso é milenar: data dos tempos dos antigos egípcios, quando faraós como Ramsés II a utilizavam para tingir seus cabelos, segundo contam os cronistas da Antiguidade.
Tendências da tradição
A esse costume tradicional se somou a moda das tatuagens de hena, cujos últimos desenhos chegam ao Egito do Sudão. "A moda agora é começar o desenho no dedo mindinho, subir pelas mãos e continuá-lo na palma e no exterior ", explica Hoda.
Antes, era comum que a noiva pedisse à tatuadora que fizesse um "cinto" de tatuagens, mas a moda mudou e agora as clientes preferam tatuar as costas todas e em volta do umbigo.
As solteiras mais ricas pedem para tatuar "áreas do corpo que não sejam vistas quando se vestam com seu traje de casamento", que será realizado um dia ou uma semana depois dessa noite mágica.
Já nos bairros mais populares, tendem a mostrar suas tatuagens e por isso pintam as mãos e os pés.
Nasra Mahmoud, porteira de um edifício no Cairo que procede do sul do Egito, exibe orgulhosa suas mãos e pés tatuados, sinal de que acabou de se casar. No entanto, estes não são os únicos desenhos, já que sua roupa esconde várias outras pinturas, especialmente nas costas e no ventre.
Um dia antes de se casar, Nasra foi à casa de uma tatuadora sudanesa para decorar o corpo, e à tarde comemorou sua noite de hena no terraço do edifício onde vive. Na festa, à qual foram mulheres e homens, a família da noiva servia a hena em grandes bandejas e os convidados, homens e mulheres, pegavam um pedaço da tinta sólida para tingir as mãos.
"Assim é como se celebra a noite de hena em Assuã", explica Fayza, irmã da noiva. Para esta família, a celebração é muito importante, "até mais que o casamento dela", diz Fayz, que garante que não se casaria sem se tatuar antes.
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